As experiências de gestão pública em que a participação popular
recebeu tratamento privilegiado, especialmente no que se refere aos
recursos públicos, e portanto aos orçamentos, no Brasil, começaram a
desenvolver-se a partir da década de 1970.
As experiências citadas na maioria das publicações e pesquisas sobre o
tema como tendo sido as pioneiras são as da Prefeitura de Vila Velha no Espírito Santo e a de Lages, no Estado de Santa Catarina,
em que os prefeitos de então adotaram como estratégia de formulação
orçamentária reuniões com a população, nos bairros, para ouvir
diretamente dos interessados as suas necessidades.
Na década seguinte, dos anos 1980,
o Brasil ingressou numa era chamada por diversos estudiosos de
"participacionista", porque a participação popular passou a se converter
não apenas numa forma prática de exercer a política, mas em uma
"utopia" ou "bandeira" política, em si mesma.
Este sentimento ganhou força, à medida que se acentuava a crise da
ditadura militar, e em que a população crescentemente se mobilizava em
favor de formas mais democráticas para o país. Assim, certos movimentos
sociais, especialmente ligados às pastorais sociais da igreja católica,
defendiam a "voz e vez" do povo, os políticos considerados
"progressistas" defendiam a descentralização política, para "aproximar
as decisões do povo", e quando assumiam os governos, procuravam
favorecer formas descentralizadas de governo. A campanha "Diretas Já",
clamando pelo direito da população eleger o Presidente da República,
expressava fundamentalmente o sentimento da população de querer estar
presente à cena política.
Com a posse do presidente José Sarney, em 1985, primeiro presidente civil, após o Golpe Militar de 1964,
houve a convocação da "Constituinte", que, constituída após as eleições
de 1986, incorporou ao seu regimento interno diversos mecanismos
participativos para acolher as demandas dos cidadãos e levá-las à
consideração dos deputados constituintes. O sentimento
"participacionista" era suficientemente forte para mobilizar a
constituição de um "Plenário Pró-Participação Popular na Constituinte"
além de recolher abaixo-assinados de mais de 12 milhões de pessoas a
propostas apresentadas aos constituintes para incorporação à
Constituição Federal, cuja conclusão deu-se em 5 de outubro de 1988. A Constituição de 1988
incorporou o direito ao exercício direto da cidadania como um dos
pressupostos do Estado Brasileiro, razão pela qual, são crescentes as
inovações institucionais e legais tendo em vista ampliar o alcance da
participação popular nas políticas públicas.

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