Quixeramobim. Aos 12 de outubro de 1958 a 13ª junta apuradora da Justiça
Eleitoral da comarca de Quixeramobim declarava encerrada a apuração dos
votos para o cargo majoritário no município sertanejo situado a 206km
de Fortaleza. O extrato da ata geral anunciava Aldamira Guedes Fernandes
vencedora do pleito para o Poder Executivo local. Com maioria absoluta
de votos, exatos 59%, comemorava a conquista, sendo empossada aos 25 de
março do ano seguinte. No Brasil, pela primeira vez, uma mulher assumia o
cargo por meio do voto livre.
Daquela época, a pioneira no
cenário político nacional recorda que não existiam comícios, não se
distribuíam bonés e nem blusas dos candidatos; não haviam carros de som
fazendo propagandas pelas ruas, cartazes e nem outdoors. Ela explica que
só existiam duas amplificadoras de som na cidade. Uma delas, a da
Paróquia de Santo Antônio e a outra, do radialista Fenelon Câmara. “A
gente tinha que conquistar o eleitor era na visita, na conversa,
mostrando nossas propostas de trabalho. Era comum a gente pedir o voto
às comadres e compadres, assegurando por conta disso, uma boa margem de
votos”, diz ela.
A ex-prefeita conta ainda que, naquele período,
no dia da eleição, era permitido fornecer o transporte e alimentação dos
eleitores. Dependendo da ocasião se matava um ou dois bois para o
preparo da merenda e do almoço. O quintal dela ficava cheio de panelões
no fogo fazendo a comida que era generosamente distribuída. “Nós os
tratávamos muito bem. Era assim que acontecia naquele tempo, uma prática
adotada por todos os candidatos. Por ser uma época de grandes
dificuldades, isso se tornava um ato de apoio ao eleitor”, lembra.
No
vigor dos seus 85 anos bem vividos, como faz questão de ressaltar,
lembra ainda que, no dia de sair para votar, as pessoas tinham por
costume vestir a melhor roupa. Faziam questão de exibir elegância, como
se fossem a uma festa. Todos faziam questão de estar bem apresentados.
Ela falou também do trabalho das Juntas Apuradoras. A contagem dos votos
era totalmente manual, no prédio da Prefeitura. Não aconteciam
desentendimentos. “Tudo era feito dentro da ordem exigida pelo juiz da
comarca”, explicou a única prefeita de Quixeramobim.
Época de Ouro
Naquela
época de ouro — fim da década de 50 e início dos anos 60 — a capital
federal mudava do Rio de Janeiro para Brasília. O Brasil vivia um
período de democracia formal. A bossa-nova, o teatro de arena e o cinema
novo se destacavam no Sudeste. Ainda havia forte resistência à
emancipação feminina. O machismo imperava. Todavia, com o apoio do
marido, o médico Joaquim Fernandes — já falecido, que por duas vezes já
havia sido prefeito deste município —, “Dona Aldamira”, como era tratada
por seu povo, jamais enfrentou discriminação na cidade.
Acerca
das atuais disputas, ela diz ser favorável à destinação de verbas
públicas para o financiamento das campanhas eleitorais. Justifica a
medida como alternativa para evitar que os candidatos de grande poder
econômico levem vantagem em relação aos que não contam com o artifício
monetário. Ela vê com preocupação a questão da influência financeira no
pleito eleitoral, principalmente quando candidatos possuem ótimas
propostas de trabalho, mas poucos recursos. Com a desigualdade fica
muito difícil serem eleitos.
O historiador e professor, Marum
Simão, destaca em seu livro “Quixeramobim, recompondo a história”,
editado em 1996, que Aldamira exerceu o mandado constitucional até 25 de
março de 1963.
Ela foi de fato e de direito popular, a primeira
mulher brasileira a se tornar prefeita através das urnas. Foi eleita
pelo Partido Social Democrático (PSD), anos mais tarde transformado no
Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Com a Constituição de 1988, o
partido recebia mais uma letra, surgindo o Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB).
ALEX PIMENTELColaborador
SAIBA MAIS
Primeiro-cavalheiroQuando um homem é eleito prefeito de algum município, sua esposa se torna a primeira-dama da cidade. A mulher do governador também é tratada como primeira-dama, mas, agora, do Estado. Já a companheira do presidente, é considerada a primeira-dama da nação. Quanto ao marido de uma mulher que assume qualquer um desses cargos, de acordo com as regras da ortografia brasileira, por se tratar de um substantivo composto, deve-se substituir o gênero feminino pelo masculino, portanto: dama por cavalheiro. Daí, passa a ser chamado de primeiro-cavalheiro. A construção pode parecer estranha, no entanto, é correta, afirmam os especialistas.
Primeiro-cavalheiroQuando um homem é eleito prefeito de algum município, sua esposa se torna a primeira-dama da cidade. A mulher do governador também é tratada como primeira-dama, mas, agora, do Estado. Já a companheira do presidente, é considerada a primeira-dama da nação. Quanto ao marido de uma mulher que assume qualquer um desses cargos, de acordo com as regras da ortografia brasileira, por se tratar de um substantivo composto, deve-se substituir o gênero feminino pelo masculino, portanto: dama por cavalheiro. Daí, passa a ser chamado de primeiro-cavalheiro. A construção pode parecer estranha, no entanto, é correta, afirmam os especialistas.
Prefeita
O Tribunal
Eleitoral do Rio Grande do Norte cita Luiza Alzira Soriano Teixeira como
a primeira prefeita do Brasil. Em 1928, aos 32 anos, disputou as
eleições pelo Partido Republicano, no município de Lages, naquele
Estado. Venceu o pleito com 60% dos votos. Tomou posse em 1º de janeiro
de 1929, quando também se tornou a primeira mulher a assumir o cargo na
América do Sul. Todavia, ela foi eleita mediante nomeação do governador,
como previa a lei naquela época. Com a Revolução de 1930 perdeu o
mandato por não concordar com as exigências do governo Getúlio Vargas.
Mulheres
Segundo
o escritor Fernando Dannemann, o Rio Grande do Norte foi o primeiro
Estado brasileiro a autorizar o voto da mulher nas eleições, assim, a
primeira eleitora do País foi a potiguar Celina Guimarães Viana. Ela
conseguiu o alistamento eleitoral invocando a Lei Saraiva, promulgada em
1881. A legislação imperial determinava direito de voto a quem tivesse
renda mínima de dois mil réis. Entretanto, o voto feminino só foi
regulamentado oficialmente em 1934, com a implantação do Estado Novo, na
Era Vargas.

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